Insônia (2)

Enfurecido, não hesitou ao cravar o facão de seu tio-avô no lado esquerdo do peito de Augusto. Nunca fora assim, tão inconsequente, mas amava sua mulher acima de tudo e de todos. Clara era a única pessoa que o fazia agir de forma inusitada e inesperada, mas nunca pensou que algum dia chegaria à esse extremo. Obsessivo: a melhor palavra para definir Benjamin. Não importava o quão amigo Augusto sempre fora. Tudo fora em vão. A tragédia estava alí e, em pouco tempo, viria o remorso. E veio.
Tudo seria diferente agora. Sem mulher e sem amigo, sozinho estava. A sala de estar nunca tinha se tornado um cômodo tão obscuro, ou, no mínimo, incômodo. Se não fosse pela inoportuna noite em que descobrira tudo, nada disso teria acontecido. Ele não teria que aguentar o fardo de saber e, agora, não teria que agir como agiu. Num momento de tensão mesclado com lágrimas, a luz se apagou. O vento forte soprou janela adentro e uma visão distorcida de sua vida lhe passou pela cabeça. Nada servia agora. Os anos que passou estudando não lhe ensinaram a lidar com situações como essa. O tempo em que passou trabalhando em sua clínica não lhe mostrou como agir diante disso.
No escuro, torcia para simplesmente ser acordado por Clara e ouvi-la dizer "Acorda, querido, tá tudo bem! Foi só um pesadelo!". Mas a luz voltou e, com ela, o medo.

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“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”