tag:blogger.com,1999:blog-67510973935180839292024-03-05T02:06:46.329-08:00Palavras de uma mente utópicaGustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.comBlogger34125tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-47632796481975459082013-10-28T15:29:00.001-07:002013-10-28T15:29:46.633-07:00Enigma.Com quantos sonhos se faz uma pessoa?Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-65958838889980072892013-09-15T13:22:00.000-07:002013-09-15T13:22:55.762-07:00Meio nada.Queria eu ser incolor,<br />
Descaracterizado de cor<br />
Ou qualquer fator externo.<br />
<br />
Queria eu ser indolor,<br />
Não ser vítima nem produtor<br />
De nenhum ardor interno.<br />
<br />
Queria eu ser meio amor,<br />
Meio cura e meio dor<br />
Em um único laço terno.<br />
<br />
Queria eu ser meio flor,<br />
Meio lindo e esplendor,<br />
Meio espinho e inverno.<br />
<br />
Queria eu ser meio<br />
Nada,<br />
Diferente de<br />
Tudo<br />
Que já se conhece.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-25013514483114078172013-09-15T13:05:00.001-07:002013-09-15T13:05:46.755-07:00Imprevisto.Você vem,<br />
Entra sem bater<br />
Na minha porta<br />
De vidro,<br />
<br />
Faz o maior<br />
Estardalhaço<br />
Sem o menor<br />
Ruído,<br />
<br />
E ainda chega<br />
Mudando de lugar<br />
Todos os móveis da<br />
Minha casa,<br />
Minha vida,<br />
Minha calma.<br />
<br />
Minha sina<br />
É ter que te olhar<br />
Tão perto<br />
E tão longe<br />
E tão perto<br />
E tão longe<br />
E tão perto<br />
E tão longe...Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-45030971918606821592012-11-22T10:32:00.003-08:002012-11-22T10:32:37.511-08:00Invisível hoje.Deixa a estante empoeirada. Não tem problema. Deixa o tapete da sala de visitas enrolado, a louça suja empilhada em cima da pia, o quadro entortado no meio do corredor. Deixa as folhas secas no quintal, a tampa do lixo aberta, a pia do banheiro pingando. Deixa a cama desarrumada, o guarda-roupa desarrumado, a pilha de livros desarrumada em cima da escrivaninha. Não tem problema. Deixa o pijama no teu corpo desanimado e o resto como está. Deixa de arrumar a casa hoje. Ela assim combina mais com a tua vida: bagunçada.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-74773587651099372792012-08-31T19:46:00.001-07:002012-08-31T19:49:02.904-07:00Metamorfose.Cansei. Cansei do real, do palpável, do prático. Cansei dessa culpa maçante, dessa corda pendurada eternamente no céu, apenas esperando candidatos. Cansei do bonito, da ilusão de beleza. Cansei das mesmas notícias na tevê, no jornal, no radio, das mesmas desgraças repetidas, do mesmo desastre que já cotidiano se torna. Cansei da comoção falsa, da locomoção falsa, do falso novo. Cansei do que os olhos são capazes de enxergar.<br />
<div>
Eu quero é algo diferente, hodierno, algo além dos nossos conhecimentos. Quero um sexto sentido, um sétimo, um oitavo. Quero que se invertam os papéis, que se invertam os valores. Quero que os sonhos virem realidade e que nossa realidade vire sonho, sonho distante. Quero novos ares, novos hábitos, novos hálitos, novas ideias, proporções, novos pensamentos. Quero tudo novo, tudo distinto. Quem sabe assim vire diferente o que temos agora, e então desejarei o agora novamente. </div>
Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-39164232839974141362012-06-01T20:56:00.000-07:002012-08-31T19:47:01.730-07:00Cotidiano.Como todo dia, acordou às seis da manhã, meia hora mais
tarde que sua mulher. Gastou seus curtíssimos "cinco minutos de sono
extra" sentado na cama. Olhou profundamente para o nada e pensou. Pensou
sobre ontem, hoje, amanhã. Os cinco minutos que costumavam passar num piscar de
olhos, hoje custaram para acabar. Momentos de reflexão exigem mais da mente do
que dormir e, sem saber muito bem o porquê, ele estava envolto em um desses
momentos exigentes.<br />
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O silêncio do quarto fora então quebrado:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Você não vem?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Era sua mulher. "Ela nunca me deixa ter em paz meus
cinco minutos a mais, sempre interrompe no terceiro.", pensou ele.
Dirigindo o olhar aos profundos olhos negros de sua esposa, respondeu com
calma:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Já estou indo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ao chegar na cozinha, reparou no "tic-tac" do
relógio, nas gotas que caíam da torneira já fechada e até mesmo nos pássaros
que cantarolavam doces melodias lá fora. E justo ele que nunca foi de se
importar muito com o que acontecia ao seu redor, hoje parecia dar atenção para
os mínimos detalhes das vidas que o rodeavam. Sentou-se à mesa e serviu-se com
um pouco de café quentinho e uma pitada de açúcar. Sua esposa fez questão de
servir-lhe também um pouco de amor ao passar por trás de sua cadeira e lhe
marcar a bochecha com batom vermelho. Com um sorriso torto, abriu o jornal. Leu
um pouco das desgraças diárias, mas, após uma ou duas notícias, percebeu que
sua mente estava bem distante. Enquanto seus olhos continuavam a passar
(automaticamente) pelas linhas, sua cabeça continuava a viajar por aí. Pensava
no casamento. Pensava no filho que estava passando a semana na casa do amigo.
Pensava na vida que havia construído ao longo dos anos e em como ela havia
saído diferente do que ele um dia planejara. Lembrava da infância e da
adolescência. Entretido com aquela nostalgia toda, mergulhou no tempo e nem
reparou. Pôde se ver de novo com oito anos, jogando futebol na rua sem saída
onde morava. Depois, passou pelos seus quinze anos e seu primeiro encontro.
Vagou um pouco pela igreja onde havia casado e pelo hospital onde nascera seu
filho. Teria continuado perdido nos velhos tempos se sua mulher não o tivesse
alertado:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Acorda pra vida, homem. Já são quase oito horas, tá na
hora de você ir!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ela tinha razão, se ele saísse dali agora, teria só meia
hora pra chegar do outro lado da cidade. Era estranho, mas ele não queria ir,
não queria trabalhar. Queria ficar em casa, trocando carícias com sua mulher.
Talvez eles pudessem sair pra almoçar como nos velhos tempos, ou quem sabe
ficar em casa e assistir à uma comédia romântica embaixo da coberta. Mas não
dava. Desistiu da ideia utópica de fugir das obrigações uma vez na vida e foi à
luta. Beijou sua mulher com sua boca cafeinada como se fosse a última vez que
iria tocar aqueles lábios. Passou no espelho pra ver se estava apresentável e,
por cinco segundos, olhou fundo em seus próprios olhos. Viu que era vítima da
rotina que ele mesmo havia criado. "Mas quem não é?", pensou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E assim, partiu pra mais um dia. Pode ter sido só mais um ou
pode ter sido o último, mas só o que importa é que foi como o planejado.</div>
Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-67226883906574463862012-04-18T17:17:00.004-07:002012-08-31T19:46:52.732-07:00Imaginare.Com sua mão direita estendida, fazia um doce movimento de carícia no simples "nada" que, naquele momento, era tudo. A típica expressão de um garoto chorão segurando as lágrimas inundava seu rosto, e ele se contentava com pouco, se contentava com algo não concreto (para os outros, não para ele). Contradizia seus pais, seus amigos e até a psicóloga do trabalho com aquelas ideias (consideradas) insanas.<br />
Era amor. Não o amor como conhecemos depois de crescidos, mas sim um amor puro, de criança. Um amor que não tem malícias, limites, problemas. Um amor de amigo, um amor de irmão, um amor intacto, livre, e pronto para ser aproveitado. Não interessava o que os outros diziam, sabia que ninguém era capaz de ver como ele via, ninguém era capaz de ver além dos olhos. Não interessava também o que os outros fariam para tentar impedi-lo, ninguém seria capaz. Amigos imaginários são como os sonhos: estão com a gente aonde a gente vai, sempre que a gente quer, e ninguém pode impedi-los de existir, pois só nós os vemos, só nós cremos neles. Seu amigo o acompanhava pelas ruas solitárias que se encontravam no caminho entre sua casa e a casa de sua vó. O acompanhava quando seus pais estavam no trabalho e ele tinha que ficar em casa. Impedia que ele ficasse sozinho em sua solidão. <br />
<br />
Até que o garoto cometeu o maior e mais paradoxo erro que os humanos podem cometer: Cresceu. Em um momento de reflexão, perguntou à lua:<br />
- Até que ponto vale a pena sonhar?<br />
E, sem uma resposta da lua, abriu mão de tudo. Abandonou seu amigo imaginário, desistiu dos sonhos. E, como todos nós fazemos, catalogou aquele período passado como "minha infância". Se viu grande e forte, mas não podia ver o mundo que acabara de deixar pra trás com toda sua imaginação. Passou a olhar com os olhos de um adulto. Passou a olhar apenas com os olhos.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-35215073534451240372012-02-25T17:29:00.002-08:002012-02-25T18:18:48.149-08:00Entre mortes e esperança.Eu podia jurar que teria um fim. Enquanto eu caminhava pela longa estrada, me vinham à mente algumas memórias. Memórias simples, aparentemente insignificantes: uma foto, uma música, um olhar. Um olhar; aquele olhar. O dia em que minha vida virou do avesso com aquele misto de paixão e timidez. E aquela pele macia roçando a minha. Aquele cheiro de café se misturando ao cheiro de cigarro. Algumas outras memórias errôneas, sem sentido. E enquanto os pensamentos enchiam minha cabeça, minhas pernas se moviam, quase que automaticamente, buscando o fim, o fim daquela escuridão, o fim daquela estrada que parecia aumentar dois quilômetros a cada um que eu andava.<br />Andava em meio aos quase mortos, aos fingidos. Era quase uma ofensa me sentir diferente deles; nossas situações eram as mesmas. Éramos pessoas correndo atrás de um propósito, um propósito para continuar. Éramos pessoas perdidas num ciclo infinito onde andávamos à procura de motivos para continuarmos andando. Mas eu jurava que teria um fim.<br />Passei por uma placa maltratada pelo tempo, uma placa que continha algumas palavras. Mas eu era capaz de ver frases ali, textos. Textos que me lembravam a luz, não só do dia, mas também dos lindos olhos de alguém. Algumas palavras perdidas me davam forças pra continuar caminhando ao ativarem lembranças de um tempo bom. Esperança sempre foi meu forte. Na verdade, acreditar no improvável sempre foi meu forte. <br />Até que, de uma hora pra outra, fraquejei. Encontrava-me de joelhos, não sei se por sede, fome, ou alguma dessas necessidades básicas. Minha fraqueza já me pregava peças: <br />- Não vê que estamos sem saída? - reclamava minha mente.<br />- Sempre há uma saída. - eu retrucava.<br />- Você sabe que não é verdade. Você sabe que algumas guerras simplesmente não são ganhas. Perdemos essa, vamos voltar.<br />E com a insistência que era minha de praxe, com a birra que guardo em mim desde criança, resolvi não dar ouvidos ao meu eu. Como se algo maior me aguardasse, continuei. Ao olhar para os lados percebi que estávamos todos assim. Caminhávamos contra nossa vontade, simplesmente pela vontade de ir contra os fatos, pela impossibilidade de aceitar. Negávamos, negávamos para nós mesmos a verdade que não condizia com nossas vontades.<br />Após dias de caminhada, era fácil ver alguns desistindo de continuar com a insanidade. Era fácil olhar pro lado e ver tudo em preto e branco ou em algum tom que me lembrasse vida. Ah, vida... Era atrás dela que eu estava correndo. Irônico era o modo como eu o fazia: desvivendo. Era como rasgar a pele do teu braço direito pra com ela cobrir a ferida do braço esquerdo. Era como estancar uma ferida e mergulhar em outra. Já não fazia mais sentido. Não fazia sentido nem mais para meu segundo "eu" que negou os pensamentos do primeiro. Ainda assim eu prosseguia com minha fé cega. <br />E caminhei ali, eternamente, na estrada da angústia. Eu poderia jurar que teria um fim. Mas minha mente estava certa. Aquela estrada não tinha uma saída simplesmente por não acabar. Um eterno começo-e-meio no qual eu me perdi tentando me encontrar.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-27557743870424238512012-01-21T14:37:00.000-08:002012-01-21T14:54:35.009-08:00Enchente.Chove.<br />Chove lá fora e chove aqui dentro.<br />Chove pra espantar o calor e chove pra apagar a alegria.<br />Chove pra matar a sede e chove pra matar as esperanças.<br />Chove porque tem que chover e chove pra me deixar confuso.<br />Chove pra encher os rios e chove pra encher meus olhos.<br />Chove pra sobrevivência e chove pro desejo de partir.<br />Chove lá fora e chove aqui dentro. Dentro de mim.<br /><br />Mas eu sei que depois da chuva sempre vem o sol.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-58420841874120901452012-01-18T15:25:00.000-08:002012-01-18T15:51:31.043-08:00Ninguém sabe.Partimos cedo, quase de madrugada. Fazia frio e o sol ainda não aparecia por inteiro no horizonte. Viajamos entre as poeiras e as sobras em busca da felicidade. Tínhamos ouvido falar muito dela e queríamos conhecê-la. Seguimos cada coordenada, cada receita. Tínhamos essas tais "regras" para obedecermos e as obedecemos à risca. Não ultrapassamos nenhum dos limites, andamos com muita calma.<br />Depois de milhões de passos, estávamos mais próximos. Os céus gritavam em tons alaranjados, os pássaros voavam com toda a leveza possível, tudo parecia tão certo. Até que surgiu algo; algo que nos impedia de seguir em frente; algo que nos impedia de alcançar a tão cobiçada felicidade. Um buraco. Profundo, escuro, impossível de atravessar. O pensamento de “o que eu fiz de errado?” inundou nossas mentes. E ali estávamos nós, nos entreolhando em busca de respostas. E ficamos ali, parados, apenas esperando pra ver quem desistiria primeiro.<br />E, sem palavras, sem sinais, nós dois desistimos. Voltamos pela longa estrada da vida. Voltamos de braços abertos às nossas rotinas, aos nossos dias sempre entediantes, às nossas normalidades insanas. Voltamos para as poeiras e as sobras. Seguimos pela sombra, pelo caminho mais fácil e seguro. <br /><br />Hoje olho pra trás e me pergunto: o que teria acontecido se tivéssemos arriscado atravessar aquele buraco? Quantas vezes não nos limitamos a ficar em apenas uma parte das estradas de nossas vidas por medo? <br /><br />Ninguém sabe.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-90233788879495559832011-12-21T13:14:00.000-08:002011-12-21T13:33:53.014-08:00Pessoal.Tem uma gaiola em meus olhos. Uma gaiola feita de medo que me impede de enxergar, me impede de ver o óbvio. E assim eu me mantenho parado, sem dar um passo pra frente ou pra trás por medo de cair em algum buraco. E se eu caísse em algum buraco, o que aconteceria?<br />Tem uma gaiola em meu peito. Uma gaiola feita de memórias, uma gaiola cortante que me rasga todo dia, que impede meu coração de bater como antes batia. E assim eu me mantenho ferido. E se machucados não cicatrizassem, o que aconteceria?<br />Eu caminhava pela estrada torta, me apoiando nas árvores que encontrava aos cantos. Eu tocava minhas melodias melancólicas pra alguém que não existe, pra alguém que eu inventei. Eu me preocupava com cada gota que chovia dos teus olhos, mas quem és tu? <br />Deixa, deixa que eu descubro. Deixa sangrar por essas palavras. Deixa sangrar até o fim que a verdade vem, sempre vem.<br /><br />Tudo vai voltar.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-72982023593448159862011-12-06T17:47:00.000-08:002011-12-06T18:10:46.666-08:00Das escolhas finais.Espalhou suas memórias pelo chão da sala. Escolheu as melhores, escolheu meticulosamente quais iriam ficar. Tinha aquela bem antiga, mal conseguia se lembrar: deitado na grama úmida do quintal, olhava os desenhos que se formavam no céu, brincava de criar. Foi pra caixinha das selecionadas. Tinha outra, tão banal quanto: tomava um banho de chuva enquanto voltava pra casa; as ruas vazias causaram-lhe uma impressão de extrema liberdade. Sozinho ali, começou a cantar suas canções prediletas. Foi pra caixinha das selecionadas. <br />Passou por lembranças amarguradas, e selecionou com ainda mais cuidado quais deveriam ficar. Convenhamos que foi bem racional nesse momento (uma vez agindo emocionalmente, teria descartado todas), pois sabia que algumas lástimas haviam sido de extrema importância para sua construção. Passou também pelos momentos mais gloriosos de sua vida, mas esses ele não fez tanta questão de guardar (com excessão de alguns). Não entendia bem porque, mas simplesmente não queria, não via mais sentido em manter aquelas memórias.<br />Uma vez terminado o trabalho, fechou sua caixinha de selecionadas, lacrou-a e viu na tampa algo escrito: "A parte boa da vida é feita de coisas simples."<br />Sorriu um último sorriso, deitou-se em seu ataúde e dormiu.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-46526136228406483112011-09-27T17:10:00.000-07:002011-09-27T18:46:56.983-07:00Fuga.Olha Maria, é normal que o desespero te preencha agora, mas lhe imploro: não seque esse teu poço de vontade de viver, não tão cedo. Não precisas de mim pra tocar tua vida, não precisas de ninguém exceto teus próprios pés. Não deixe que tua sombra te engane, sombras são traiçoeiras. <br />Sabe Maria, eu bem queria permanecer aqui do teu lado, continuar te dando colo no final da tarde enquanto assistimos o sol se pôr junto com mais um dia, mas não posso prosseguir com esse teatro sem atos felizes. Os ponteiros giram e giram e giram e eu não saio do lugar, o tempo passa sem minha vida acompanhar. Não que eu não queira mais viver, mas essa vida já cansou de mim. É como se eu não fosse o ator certo, como se eu sempre demorasse mais para decorar as falas, e você sabe Maria, improviso não é o meu forte. <br />Um velho amigo me disse que temos nosso futuro traçado, como arquitetos planejam prédios e escritores criam estórias, e que nada nunca sai diferente do que nos foi previsto. Mas sabe, Maria, eu não concordo. Se estou onde estou, a culpa é minha e de mais ninguém. Todos têm chances de contornar os obstáculos, mas nem todos se saem muito bem nessa tarefa, e eu fui um desses. Isso não é um pedido de piedade, Maria, é só uma mera tentativa de te explicar o que está acontecendo aqui.<br />Só te peço para que não me encare como um perdedor se um dia nos encontrarmos novamente em algum canto desse mundo ou de outro.<br />Eu esperava mais disso, sabe Maria? Esperava que a vida fosse igual aos sonhos que temos quando crianças. Esperava que pudéssemos ser livres, que pudéssemos ser donos do nosso nariz uma vez que atingíssemos a maioridade. Bobagem. Quanto mais o tempo passa, mais deixamos de ser quem realmente somos para que possamos nos encaixar nesse mundo. É como se passássemos por um rígido processo de adaptação social onde aprendemos tudo que devemos fazer na hora certa. <br />E eu reprovei Maria, reprovei na vida. Reprovei quando eu tinha que sorrir e só queria chorar, quando eu tinha que chorar e nem me importava, quando eu não podia me importar e acabava me preocupando. Mas nem tudo foi perdido, nem tudo foi em vão: tive-te Maria, e ter-te-ei pra sempre em meu peito.<br />É tarde Maria, anjos batem à minha porta e já não posso evitar. Sinto a brisa enquanto me deito em meio às lágrimas agora secas. Nunca fui bom com despedidas, por isso deixo-lhe esta carta de adeus. E por mais que doa em ti, Maria, ou por mais que doa em mim, não se esqueça de viver a vida como lhe foi ensinado, como você sempre fez.<br />Não termine como eu, Maria, mas venha me visitar um dia.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-57739797442629779402011-01-17T04:44:00.000-08:002011-01-17T06:06:46.017-08:00CiclosAcordar; observar; chorar; acalmar; conhecer; sorrir; dormir; crescer. Acordar; reconhecer; brincar; comer; aprender; observar; temer; machucar; querer; lembrar; associar; dormir; crescer. Acordar; questionar; desejar; estudar; expor; temer; impedir; pressionar; agitar; apegar; amar; chorar; lembrar; sorrir; sentir; buscar; rebelar; revelar; acalmar; errar; observar; tentar; cursar; aquietar; dormir; crescer. Acordar; olhar; trabalhar; batalhar; enfrentar; experimentar; retocar; disfarçar; mentir; fingir; amar; ensinar; cuidar; educar; contemplar; temer; ceder; dormir; decrescer. Acordar; sentir; refletir; sorrir; caminhar; lembrar; amar; arrepender; descansar; felicitar; compreender; acalmar; contemplar; flutuar; dormir. Viver; vida, morte.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-44801992569710844562011-01-08T13:29:00.000-08:002011-01-08T13:56:07.853-08:00Inevitável vontade“Deseja-me como desejo-te:<br />Da carne à alma, do ardor à calma;<br />Do amor que me ocupa e por teus lábios clama.<br /><br />Deseja-me como desejo-te:<br />Com vontade e complacência,<br />Com paixão e paciência e<br />deleitaremos o gozo veemente.<br /><br />Que teus braços busquem meus abraços<br />e consolidem o júbilo que pertence<br />àqueles que se entregam ternamente.<br /><br />Que esta carícia preencha teu coração<br />E que se deixe levar por quem te ama.<br />Deseja-me como desejo-te<br />E se perca em minha cama.”Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-69375786804530426312011-01-06T11:13:00.000-08:002011-01-06T12:06:38.983-08:00Dos sonhos.Debaixo da sombria luz vermelha ele se encontrava, absorto em seus pensamentos. Caneta preta presa à sua mão direita, enquanto seu braço esquerdo se estendia ao longo da velha escrivaninha. Alí, na mesmíssima escuridão, milhares de personagens e enredos tinham sido criados e aperfeiçoados. Mas não hoje. Seus olhos claros corriam pelo quarto (ou até mesmo pela pequenina janela que se encontrava na parede logo à frente) em busca de inspiração; Não vinha. Levantava-se, andava pra lá e pra cá, ligava e desligava a televisão, o rádio, mas nada. Nenhuma idéia passava por aquela cabeça cujos cabelos, sempre tão negros, se encontravam completamente despenteados.<br />As palavras certas pareciam fugir do jovem como o diabo foge da cruz. Lá no alto brilhava a lua que lhe rendera tantos romances apaixonados. Nem mesmo ela era capaz de fazer aquela horribilíssima e inaceitável noite brilhar. Inquieto, debatia-se contra a parede, incapaz de entender como nenhuma palavra era capaz de se formar ao longo daquelas linhas. Nem gritos e escândalos eram suficientes para atrair-lhe alguma mísera idéia. Mentalmente desgastado e emocionalmente abalado, deitou-se. Envolto em lágrimas, sentia suas entranhas contorcerem-se. Significava o fim do mundo para ele. Talvez o maior pecado, algo imperdoável, digno de milênios sem paz.<br />Ainda transtornado, afundou inconsciente em um mundo cheio de inspiração. Era capaz de ver luz em todos os lugares. Mergulhado em seus sonhos, dormia aliviado, consciente de que o amanhecer lhe renderia boas páginas de eletrizantes estórias. E fez-se de novo o mundo que tanto temeu perder: Imaginação.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-65862875810087076902010-09-02T08:18:00.000-07:002010-09-02T08:46:53.044-07:00Aleatório - Selo de ouroBoa tarde a todos!<br />Primeiramente gostaria de agradecer mais uma vez às pessoas que comentam aqui, me deixam muito feliz! Queria explicar também que não ando postando tanto por falta de tempo e, algumas vezes, inspiração. Queria lhes contar também uma novidade: a partir de agora, um amigo meu, <span style="font-weight:bold;">Danilo Rocha</span>, vai postar aqui no blog também. Os textos dele são ótimos, espero que gostem.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEg4alYTrDK7p8_FyqDRo42_4N1Sa5LopQS0v-5XhGCKGZJFbrNkoq9m71tSpGzMnHP5hFF9yi2vW5d5HWMJNjibre3C-CtKuoqLymcKQNIBttaUz8bnQQDmgzPPLKmJT9aa7XIdm_A9Eb/s1600/selo_de_ouro.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 198px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEg4alYTrDK7p8_FyqDRo42_4N1Sa5LopQS0v-5XhGCKGZJFbrNkoq9m71tSpGzMnHP5hFF9yi2vW5d5HWMJNjibre3C-CtKuoqLymcKQNIBttaUz8bnQQDmgzPPLKmJT9aa7XIdm_A9Eb/s400/selo_de_ouro.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5512338985971310130" /></a><br /><br />Bom, a criadora do blog <a href="http://panoseagulhas.blogspot.com/">Panos e agulhas na mão!</a>, um ótimo blog pra quem gosta de moda, me deu este "selo", que tenho que repassar para outros 3 blogs. Primeiramente gostaria de agradecê-la pelo apoio, e dizer que fico super feliz por isso! Agora, os outros 3 blogs:<br /><br />- <a href="http://literaturandoomundo.blogspot.com/">Literaturando o mundo</a><br />- <a href="http://aquela--musica.blogspot.com/">Aquela Música</a><br />- <a href="http://fakeverses.blogspot.com/">Versos Falsos</a><br /><br />E é isso pessoal, em breve mais postagens.<br />Beijos e Abraços a todos(as)!Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-63292090143466931432010-08-18T16:08:00.000-07:002010-08-18T16:34:57.985-07:00Abaixo de zero grausEstava frio! Mas não era um frio comum, era um frio que gelava a alma, deixando claro que não mais haveria felicidade. No pequeno vilarejo, o vento soprava forte, de leste à oeste, arrastando para longe do lugar a alegria que outrora fora marca dos habitantes locais. Ontem, a paz, hoje, a dor. Nos olhos de cada um se via um trauma, um medo que já não dava mais lugar à esperança. Famintos, sedentos e descontentes. Nenhuma tempestade poderia causar tal espanto.<br /><br />Ruas alagadas pelas lágrimas de cada um, e cada milímetro guardava um segredo. Boiavam, em meio aos sonhos já mortos, lembranças distantes de um tempo bom, um tempo em que o sol ainda brilhava. E veio a chuva, o céu nublado que parecia não ser mais capaz de abrir. Viam-se olhos secos, profundos, nostálgicos. Desejos de partida, disfarçados por sorrisos desdentados. Nada mais a se fazer, uma cena que amargurava o coração.<br /><br />E, por mais que já fizesse calor, estavam todos frios. Mortos por dentro e, cada vez mais, por fora.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-71207758665493477962010-08-13T19:01:00.000-07:002010-08-13T22:06:11.675-07:00Homens bélicosNão existiam exceções, nem mesmo ele. Lembrava detalhadamente da voracidade que queimava em seus negros olhos ao fitar o inimigo em seus pesadelos. Parecia ter o poder em suas mãos, mas sua unica posse no momento era uma arma de fogo. Não demonstrava medo, afinal, sua prontidão à luta sempre fora admirada por seus superiores. Bastou o tal dia chegar, e a realidade perfurou árduamente seus momentos ilusórios.<br />Nem tudo era como ele imaginava, batalhar já não era uma honra. Se antes achava estar ali por qualidades unicas, agora já se sentia como uma marionete. Para que estar ali? O perigo era muito maior do que pensou que fosse, e os motivos de toda essa guerra acontecer pareciam não existir. Por trás daquele monstro, por trás daquele desejo por sangue, a esperteza aflorava. Ele não queria simplesmente guerriar. Não lhe interessava algo que não possuísse um motivo maior. Queria mesmo era salvar alguém, uma pessoa, um grupo, uma pátria. Queria mesmo era ser herói! Mas o que ele salvaria ali? Salvaria a pele de pessoas que mandam demais para estarem em uma guerra, lutando por seus ideais. <br />Ignorou todos esses pensamentos revoltantes quando o inimigo atacou. Agora era matar ou morrer. Matar sem um motivo, morrer sem um motivo. Vidas e mais vidas tiradas. Familias destruidas, órfãos gerados. Durante o curto tempo que tinha entre um bombardeio e outro, tentava encontrar algo que justificasse isso tudo, que acalmasse um pouco sua mente... Kilômetros e mais kilômetros de cadáveres jogados ao solo, milhares de almas perdidas.<br />Ele sobreviveu à guerra. Não consegue se lembrar de muita coisa, de que lado jogava ou quem eram seus companheiros. Não consegue mais diferenciar realidade de imaginação. Quer gritar, expor algo que mal sabia o que é. Acorda sem a mínima vontade de abrir os olhos, abrir a janela e ver que outras guerras estão sendo travadas, todos os dias. O mundo se foi, ele é apenas um agora.<br />"Por favor, Deus, me ajude, me acorde, me liberte."<br />Não existiam exceções. Não existem exceções. Existem humanos cada vaz mais desumanos.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-17609908279492716542010-07-20T21:50:00.000-07:002010-07-23T00:53:50.428-07:00Ele e a cidade.A sola do seu antigo all-star maltratava o áspero asfalto sempre que ele dava mais um passo, e adicionava mais um kilômetro, metro ou centímetro à sua vida. A desgastada vida que levava desde que saiu de casa, procurando independência e pensando poder usufruir do livre-arbítrio. Não demorou muito até descobrir que o mesmo não existe, não sempre.<br /><br /><span style="font-style:italic;">A sede de revolução, o desejo de mudança, a necessidade de evolução! A igualdade não é uma realidade, mas os jovens sonham. E têm o excesso de energia suficiente para confrontar aqueles que defrontam suas fantasias.</span><br /><br />Já passava da meia-noite e ele desfilava sozinho pelas ruas, revoltando-se contra o atual e desigual estado. Desigualdade, algo que nunca suportou. Em sua cabeça, milhares de pessoas o seguiam, inovando e transformando uma série de injustiças. Incorporava o clima, debatia, ameaçava, gritava!<br /><br /><span style="font-style:italic;">Para um ganhar, alguém tem que perder. Inaceitável condição capitalista, consolidando riqueza excessiva para uns e usando outros como forma de lucro. Suas desculpas não condizem! Direitos iguais, não é isso que eles dizem?</span><br /><br />Quase vencendo a guerra, se lembrou que era hora de descansar. Sua imaginação se apagou quase que instantaneamente. Procurou algum lugar tranquilo e tentou dormir. Agora sim ele poderia sonhar sem ser visto como um louco.<br /><br /><span style="font-style:italic;">Afinal, todos sonham, mas poucos são aqueles que buscam transformar o sonho em realidade.</span><br /><br />Amanhã ele terá uma nova revolução para começar.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-60628783377469536242010-07-14T22:40:00.000-07:002010-07-14T23:57:58.625-07:00O último pôr-do-sol- Sente esse cheiro? - Perguntou, olhando diretamente aos grandes olhos verdes de Emanuele.<br />- Que cheiro, Miguel? - Disse a garota.<br />- Esse cheiro de saudade saciada. Eu não vinha à esse lugar há muito tempo, pelo menos não em sua companhia. Desejei tanto, pedi tanto que me fosse concedido um ultimo minuto ao seu lado, com essa visão.<br />Lágrimas encheram os olhos do jovem, que agora estavam direcionados ao sol que se punha entre as montanhas. Apreensiva, ela tratou de secá-las, agora que rolavam pelo rosto dele.<br />- Nunca te vi chorando, Miguel. O que se passa? - Disse Emanuele.<br />De fato, nunca havia visto o garoto chorar, em anos de amizades. Virando-se à ela, ele respondeu:<br />- Perdão, Manu. - era o apelido carinhoso pelo qual Emanuele sempre era chamada - É que você partirá ao amanhecer, e não sei quando nos veremos de novo. Não pude evitar que meu coração gritasse e deixasse transparecer a tristeza que sinto com tua partida. Tantos anos juntos, dividindo inúmeras experiências, passando por poucas e boas... É impossível não sentir falta, e sei que sentirei, muita!<br />Irrompeu-se um silêncio que permaneceu alí pelos próximos cinco minutos. O sol já se punha quase por completo, e a lua começava a dominar o céu. Dia de lua cheia. Miguel costumava comparar a grande estrela com os olhos de Manu. Dizia que eles eram "uma reprodução menor e esverdeada" da lua. Manu interrompeu o silêncio:<br />- Solucei inúmeras vezes ao pensar em ficar longe de ti. Infelizmente, é inevitável. Consegui me acalmar quando lembrei que vou te carregar sempre comigo, no meu coração, independente da distância que nos separe. E além do mais, eu lhe escreverei, amigo, e lhe farei visitas de vez em quando.<br />Nenhuma palavra parecia adiantar, as lágrimas continuavam rolando pelo rosto de Miguel.<br />- Tá na nossa hora, Manu. Vamos! - Disse, levantando subitamente.<br />A garota levantou também e ficou cara a cara com ele. Os olhares se entrelaçavam e os dois pareciam hipnotizados. Ela era considerávelmente menor que ele, o suficiente para ter que inclinar a cabeça para tras na tentativa de olha-lo nos olhos quando estivessem muito pertos um do outro. Como se aquela fosse a última vez que eles iriam se ver, ele acariciou o rosto dela. Os lábios ressecados de Miguel se uniram com os grossos lábios de Manu. E ali permaneceram pelos próximos dez segundos, até o momento ser interrompido pela preocupação do jovem:<br />- Vamos, Manu. Tá ficando tarde, se você não voltar pra casa antes do céu escurecer completamente, seu pai me mata!<br />E os dois foram.<br /><br />Ao amanhecer, Emanuele foi para terras distantes, e Miguel ficou. O jovem assistiu ao pôr-do-sol ali, naquele mesmo lugar, durante todos os dias de sua vida, desde a partida de sua amiga, que na verdade era sua amada. Aguardava com afinco o retorno de Manu, mas essa nunca voltou. Leu durante noites e mais noites a carta de despedida que a jovem deixara à ele antes de partir. A última carta.<br /><br />E ele nunca deixou de amá-la.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-72986052101646368372010-07-08T16:40:00.000-07:002010-07-08T17:39:10.548-07:00Agorafobia."Eu lhe explicaria, se soubesse como. Era como se algo fosse me acontecer sempre que eu estivesse longe. Afetava o meu dia-a-dia completamente, como se eu nunca mais fosse voltar ao normal. As pessoas já estavam me vendo como um estranho. Era difícil me socializar por vontade, a aflição me preenchia, me comia vivo. E foi por isso que eu larguei o mundo, e o mundo consequentemente me largou. Eu só queria ficar dentro.<br />Nunca parei de observar o que acontecia lá fora, como as pessoas se moviam cada vez mais rápidas, como o mundo evoluía, ou pelo menos achava que evoluía. Vocês já repararam como as pessoas costumam fazer a mesma coisa, todos os dias, inconscientemente? E por mais horrível que pareça, todos caem nessa rotina. É realmente raro achar alguém que escape dela. Eu não posso dizer que sou um desses pois não sou. Meus dias eram todos iguais. Absolutamente todos! Eu só me preocupava com uma coisa: ficar dentro.<br />Eu nunca ousei. Sempre fui um sonhador, mas nunca ousei. Não ousei porque eu não poderia ousar, nem se quisesse. Algo me prendia, como fortes correntes. Puxavam meu pé, sempre. Por mais livre que eu fosse, nunca pude usufruir de liberdade. Ás vezes penso como minha vida seria se eu tivesse aproveitado as chances. Mas tinha essa corrente, sabe? Meu subconsciente, minha prisão. Lá fora não era pra mim, e por isso eu estava dentro. Eu sempre fiquei dentro.<br />Algo me diz que hoje é o meu ultimo dia. Já estou velho, já estava mais do que na hora. Se realmente for, partirei sem medo. Ao menos eu gostaria de me orgulhar de algo. Ao menos eu gostaria de realizar algo, sabe? Mas tudo bem, nem eu vou ser em vão. Pelo menos pude me controlar com minha falta de controle, e eu vou continuar dentro. <br />Dentro de casa."Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-66740501117484880722010-06-25T17:00:00.000-07:002010-06-25T17:35:10.997-07:00Onze mil portas.Em uma certa manhã de lua cheia, um triste sorriso estampava os olhos do Senhor Ninguém. Desenhava com desdém a silhueta de uma mulher sem corpo e, de vez enquando, olhava pelo vidro da janela esperando que alguma luz passasse por entre as carregadas nuvens claras. Nada fazia sentido, nada parecia ter forma, e o destino tão incerto sobrecarregava suas costas. Um pássaro branco entrou rastejando pela porta, o teto pareceu tremer enquanto o chão se abria abaixo de seus pés. Como num pesadelo horrível, o final feliz estava longe de ser atingido. O céu negro matava qualquer esperança de que os sonhos que tivera na noite passada pudessem se tornar realidade algum dia. E aquela eterna madrugada nunca terminava, nunca tinha um fim. Caía, com o pincel na mão, sem mais saber aonde estava ou pra onde iria. Por quem? Pra quem? Por que? Onze mil portas estavam em volta dele e cada parte do seu corpo parecia querer uma. Optou pela do meio, com medo do que viria. Por quem ele procurava? Por que ele continuava? Pra quem ele queria mostrar que ainda podia servir para algo? Ó, a loucura! Finalmente abriu a porta da loucura! E entrou, clareando o céu de seu próprio mundo, trazendo falsa alegria ao seu morto sorriso, vivendo algo que não existia. Tinha certeza de que viver sozinho seria melhor. Sempre soube que aquele mundo não era pra ele. Ah, a calma! Finalmente pôde desfrutar da calma que é não ter que se preocupar com o que está no mundo real. Se entregou e pôde dormir, sob a linda escuridão do sol em plena meia-noite.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-47966075265981639702010-06-15T14:31:00.000-07:002010-06-15T15:02:34.083-07:00Por algo melhor.Estremeça, enlouqueça, abale as estruturas de uma sociedade toda (mal)organizada. Modifique, mortifique todos os princípios injustos, todas as justiças que julgam o que é certo e o que é errado.<br />Mostre, demonstre o que devemos ser à quem não sabe lidar com situações precárias e delicadas.<br />Triture, pulverize qualquer tipo de preconceito.<br />Reconstrua, desenvolva novos conceitos a serem seguidos, e guie o mundo como um labrador guia um deficiente visual.<br />Cuide, sustente quem não tem capital suficiente pra viver decentemente nesse mundo onde o dinheiro vale mais que qualquer outra coisa.<br />Exclua, expulse qualquer tipo de risco àqueles que querem mudar.<br />Mude, recomece, por você e por todos. <br />Abra sua mente e mostre ao mundo suas idéias utópicas.<br />Seja livre. Seja você.<br />Seja o que o mundo precisa. <br />Seja mais. <br />Seja.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6751097393518083929.post-62264937886624211502010-06-13T08:07:00.000-07:002010-06-13T09:48:16.898-07:00Do outro lado.Olhava fixo para o nada, sempre com aqueles olhos preguiçosos. Lembranças de um tempo tão distante lhe passavam pela cabeça, ao mesmo tempo em que o vento forte batia em seus lisos cabelos. Pessoas passavam à sua frente, mas ele não via ninguém. Sua mente não conseguia pojetar imagem alguma, senão a de seu falecido pai. <br />- Papai, eu posso domir na casa do Guto hoje?<br />- Só se você não se esquecer de agradecer aos pais dele, filho. Ah, e não se esqueça da sua escova de dente também!<br />Já não era mais tão pequeno a ponto de ter que pedir a permissão do pai para dormir fora. E, mesmo depois de grande, ele continuava a tratá-lo como um eterno bebezão. Frases como "Não volte tarde hoje" e "Não ande descalço, vai pegar um resfriado" não eram nada incomuns. Nunca gostou desse jeito superprotetor do pai, mas sempre o amou profundamente. Amaria ainda mais se soubesse o que viria.<br />Pensava sobre a morte e que sentido ela teria senão destruir a felicidade alheia. Talvez a morte servia para nos fazer ver que certas pessoas mereciam mais o nosso valor. Preferia ter morrido junto com o "velho" naquele acidente de carro, mas tudo que conseguiu foi uma perna engessada. <br /><br />De olhos fechados e braços abertos, começou a rezar. Lágrimas escorreram involuntáriamente pelo seu rosto e era como se uma orquestra inteira tocasse ao fundo, enquanto a imagem de seu pai lhe passava pela cabeça. Como se fosse uma resposta, o vento mudou completamente de direção, de leste à oeste, e pôde sentir um pingo de felicidade, estranho sentimento que não esteve mais apto à receber. Não pôde ter certeza, mas pensou que, de algum modo, aquele fosse um jeito de seu falecido pai lhe avisar que as coisas não funcionavam bem assim. Talvez ele estivesse melhor do outro lado. Talvez ele quisesse avisar ao filho que aquilo não era simplesmente o fim. <br /><br />Talvez ele só quisesse dizer que coisas importantes simplesmente não têm um fim.Gustavo .http://www.blogger.com/profile/09192871370393318847noreply@blogger.com2