Imaginare.

Com sua mão direita estendida, fazia um doce movimento de carícia no simples "nada" que, naquele momento, era tudo. A típica expressão de um garoto chorão segurando as lágrimas inundava seu rosto, e ele se contentava com pouco, se contentava com algo não concreto (para os outros, não para ele). Contradizia seus pais, seus amigos e até a psicóloga do trabalho com aquelas ideias (consideradas) insanas.
Era amor. Não o amor como conhecemos depois de crescidos, mas sim um amor puro, de criança. Um amor que não tem malícias, limites, problemas. Um amor de amigo, um amor de irmão, um amor intacto, livre, e pronto para ser aproveitado. Não interessava o que os outros diziam, sabia que ninguém era capaz de ver como ele via, ninguém era capaz de ver além dos olhos. Não interessava também o que os outros fariam para tentar impedi-lo, ninguém seria capaz. Amigos imaginários são como os sonhos: estão com a gente aonde a gente vai, sempre que a gente quer, e ninguém pode impedi-los de existir, pois só nós os vemos, só nós cremos neles. Seu amigo o acompanhava pelas ruas solitárias que se encontravam no caminho entre sua casa e a casa de sua vó. O acompanhava quando seus pais estavam no trabalho e ele tinha que ficar em casa. Impedia que ele ficasse sozinho em sua solidão.

Até que o garoto cometeu o maior e mais paradoxo erro que os humanos podem cometer: Cresceu. Em um momento de reflexão, perguntou à lua:
- Até que ponto vale a pena sonhar?
E, sem uma resposta da lua, abriu mão de tudo. Abandonou seu amigo imaginário, desistiu dos sonhos. E, como todos nós fazemos, catalogou aquele período passado como "minha infância". Se viu grande e forte, mas não podia ver o mundo que acabara de deixar pra trás com toda sua imaginação. Passou a olhar com os olhos de um adulto. Passou a olhar apenas com os olhos.

2 comentários:

Marcelo R. Rezende 19 de abril de 2012 às 11:18  

Passou a olhar, mas deixou de ver.

Sabrina Andrade 28 de abril de 2012 às 18:41  

Oi Gustavo,
Grande perda a do garoto. Espero que ele se reencontre com a essência do olhar.
Gostei muito dos seus textos. Principalmente do "Enchente".
Beijos
Sah

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“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”