Insônia

Amedrontado, pensava em algum jeito de contornar aquilo. Nunca estivera em alguma situação parecida antes. Diante do cadáver, que agora exalava um cheiro horrível, não conseguia encontrar soluções para o problema. Desejava que o tempo fosse mais flexível. Desejava poder mudar o passado, mas não podia. Prendeu a respiração e colocou o morto em seus ombros. Na cozinha, espreitou pela janela se havia algum sinal de vida na casa ao lado. As luzes apagadas indicavam sinal verde. Avançou. Já no quintal, ouviu um barulho vindo do interior de sua casa: a campainha. Desesperado, correu frenéticamente. Seu corpo se arrepiou inteiro em fração de segundos, e seu coração disparava acelerado. Secou algumas gotas de suor frio que lhe escorriam pelo rosto e abriu a porta do hall de entrada. Era a Dona Célia da casa da frente, uma senhora simpática, que cuidava dos netos enquanto sua filha trocava o trabalho por mais uma garrafa de vodka. Com ar de espanto, a velhinha, que trajava um pijama xadrez, se apressou em perguntar:
-Está tudo bem? Ouvi gritos que pareciam vir daqui.
Benjamin logo respondeu:
-Está tudo certo, deve ter sido um de meus gatos.
Nem sequer gatos o jovem tinha. Ao ver que Dona Célia se afastava, voltou para o quintal. Pronto para terminar o "serviço", mais um espanto: Não conseguiu encontrar o cadáver. Procurou por todo o lote, mas não consegui encontra-lo. Desistiu.
Nunca mais conseguiu dormir.

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“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”