Espalhou suas memórias pelo chão da sala. Escolheu as melhores, escolheu meticulosamente quais iriam ficar. Tinha aquela bem antiga, mal conseguia se lembrar: deitado na grama úmida do quintal, olhava os desenhos que se formavam no céu, brincava de criar. Foi pra caixinha das selecionadas. Tinha outra, tão banal quanto: tomava um banho de chuva enquanto voltava pra casa; as ruas vazias causaram-lhe uma impressão de extrema liberdade. Sozinho ali, começou a cantar suas canções prediletas. Foi pra caixinha das selecionadas.
Passou por lembranças amarguradas, e selecionou com ainda mais cuidado quais deveriam ficar. Convenhamos que foi bem racional nesse momento (uma vez agindo emocionalmente, teria descartado todas), pois sabia que algumas lástimas haviam sido de extrema importância para sua construção. Passou também pelos momentos mais gloriosos de sua vida, mas esses ele não fez tanta questão de guardar (com excessão de alguns). Não entendia bem porque, mas simplesmente não queria, não via mais sentido em manter aquelas memórias.
Uma vez terminado o trabalho, fechou sua caixinha de selecionadas, lacrou-a e viu na tampa algo escrito: "A parte boa da vida é feita de coisas simples."
Sorriu um último sorriso, deitou-se em seu ataúde e dormiu.
Das escolhas finais.
Postado por
Gustavo .
06 dezembro, 2011
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